Há quem fuja dele, quem esteja atento e o encare com periodicidade e o
grupo que exagera. O objetivo do checape é detectar doenças na fase
assintomática ou riscos que podem comprometer a saúde e o bem-estar das
pessoas. Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado e não extrapolar. O
que isso significa? O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica
Médica (SBCM), Antônio Carlos Lopes, alerta sobre a necessidade de os
profissionais e da população terem consciência de que o checape não é só
uma avaliação de exames. Na verdade, ele enfatiza, "o checape deveria
ser uma consulta clínica completa, com total interação dos problemas do
paciente. Uma pessoa com pânico tem todos os exames normais e não quer
dizer que ela não esteja doente", avisa.
Antônio Carlos destaca
que toda consulta clínica é um checape. "É quando o médico leva em conta
não só o que o paciente sente, mas fará um exame tanto do histórico
pessoal quanto do familiar." Ele lembra que "exames têm complicações e
que, atrás de uma máquina, tem um médico, mas não sabemos qual sua
formação e erros são comuns. Há pouco tempo, recebi quatro exames de
ressonância magnética com resultado normal, mas o paciente continuava se
queixando. Na consulta clínica, detectei apendicite, mas ele disse já
ter feito a cirurgia. Perguntei há quanto tempo e ele respondeu que
fazia mais de 50 anos. Ele tinha, sim, apendicite, já que há cinco
décadas só se tirava uma parte do apêndice".
O presidente da SBCM
revela "cansaço" ao ter de lidar com a avalanche de exames que o
checape se tornou. Mostra-se indignado com os excessos e falta de
cuidado. E reforça: "Exame não substitui a consulta clínica nem a
relação médico-paciente. É preferível que a avaliação não fique centrada
em exame e ele só seja pedido com base no diagnóstico clínico, com
avaliação do risco e presença de uma doença na família. Tem pessoas
fazendo exame de PSA com 30 anos e não se faz com menos de 50!".
Para
Antônio Carlos, é triste a "medicina centrada em exames, que transforma
todos em iguais, sendo que a única regra na medicina é a
individualidade. Isso é absurdo do ponto de vista acadêmico e da
formação médica". Ele diz que ?95% dos exames são normais e que eles são
um flash momentâneo de um indivíduo centrado em exames, o que vai na
contramão da medicina humanista". O importante, diz o médico, é uma
consulta bem orientada, sem pressa, que valorize os antecedentes e que
privilegie a relação médico-paciente e o humanismo.
Há todo tipo de médicos e pacientes, por isso a conduta nessa relação
tem ganhos e perdas. Há profissionais que só dão diagnóstico com base
em exames e há pessoas que só se sentem seguras quando os exames são
solicitados. Na análise de Antônio Carlos, isso ocorre porque "falta
médico experiente e com formação de excelência e paciente que quer exame
ou que se guia pela internet porque não sente carisma no médico, que
não transmite segurança, nem o escuta. Saibam que checape não é
matemática, há exames errados".
PROCEDIMENTOS
Ariovaldo Ribeiro Mendonça, médico patologista clínico e coordenador
do Núcleo de Check-up do Grupo Hermes Pardini, alerta que o checape vale
para qualquer idade e enfatiza seus três pilares: "Em primeiro lugar,
ele é preventivo. Setenta por cento das doenças são detectadas por meio
do uso de procedimentos complementares ao diagnóstico. Em seguida, é
importante para detectar os fatores de risco, como obesidade,
hipertensão arterial, sedentarismo, pré-diabetes, tabagismo, alcoolismo e
ingestão exagerada de sal e açúcar, e descobrir uma doença. O terceiro
ponto é, doença instalada, acompanhar o tratamento".
Ele conta
que, no Grupo Hermes Pardini, em seis horas, o paciente conclui seu
checape, que passa por sete consultas com cardiologista, clínico,
dermatologista, nutricionista, ginecologista e mastologista, urologista e
oftalmologista. ?Fazemos um questionário pré-checape, que avalia dados
nutricionais, se é ou não sedentário, antecedentes familiares, que são
fundamentais, porque hoje temos uma linha de exames genéticos para todas
as doenças e fatores de risco. Ele fará também mais de 10 procedimentos
diagnósticos (audiometria, dermatoscopia, eletrocardiograma,
ecocardiograma, mamografia, raio-X de tórax, ecodoppler), além de exames
laboratoriais.?
Ariovaldo Mendonça explica que, para ter saúde, a
população precisa entender que se não mudar o pensamento não vai
funcionar. Ou seja, não tem como comer picanha todo dia, consumir 18
chocolates e tomar refrigerante. "A medida é durante a semana ter uma
alimentação saudável de folhas, verduras, legumes, arroz integral e no
fim de semana degustar uma feijoada ou churrasco. O problema é o
exagero, que, em determinado momento, o obrigará a não ingerir, por
exemplo, mais doce. É preciso uma reeducação alimentar. E quanto mais
cedo, mais fácil para o médico ajudar."..Fonte: Globo.com